
Ísis
foi uma das principais divindades na religião do Antigo Egito cuja veneração
espalhou-se também para o mundo greco-romano. Ela foi mencionada pela primeira
vez no Império Antigo como uma das personagens principais do mito de Osíris, em
que ressuscita seu marido, o rei Osíris, e produz e protege seu herdeiro,
Hórus. Acreditava-se que Ísis ajudava os mortos a entrarem no pós-vida da mesma
forma que tinha feito com Osíris, também sendo considerada como a mãe divina do
faraó, que por sua vez estava ligado a Hórus. Seu auxílio materno era invocado
em feitiços de cura para beneficiarem o povo comum. Ela originalmente
desempenhou um papel limitado em rituais reais e templos, porém era mais
proeminente em práticas funerárias e textos mágicos. Ísis era retratada
artisticamente como uma mulher humana usando um hieroglifo no formato de trono
em sua cabeça. Ela assumiu no Império Novo os traços que originalmente
pertenciam a Hator, a deusa mais importante durante o período antigo, passando
assim a ser retratada usando a touca de Hator: um disco solar entre os chifres
de uma vaca.
Osíris
e Ísis tornaram-se as divindades mais veneradas dentre o panteão egípcio
durante o Terceiro Período Intermediário, com ela absorvendo várias
características de outras deusas. Governantes tanto do Egito quanto de sua
vizinha Núbia ao sul começaram a construir templos dedicados principalmente a
Ísis, com seu templo em Filas tornando-se um grande centro religioso para ambos
egípcios e núbios. O poder mágico atribuído a ela era maior que o de todos os
outros deuses, sendo dito que Ísis protegia o reino de seus inimigos, governava
os céus e o mundo natural e até mesmo tinha poder sobre o próprio destino.
Durante
o Reino Ptolemaico, quando o Egito foi governado e colonizado por gregos, Ísis
passou a ser venerada pelos egípcios e gregos junto com um novo deus, Serápis.
Esta adoração espalhou-se pelo mundo Mediterrâneo. Os devotos gregos lhe
atribuíam características tiradas de deuses gregos, como intervenção no
casamento e a proteção das embarcações nos mares, também mantendo ligações
fortes com o Egito e outras divindades egípcias que eram populares no mundo
helenístico, como Osíris e Harpócrates. A cultura helenística foi absorvida por
Roma no século I a.C. e o culto a Ísis tornou-se parte da religião romana. Seus
devotos eram pequenos em proporção dentro da população do Império Romano, porém
eram encontrados por todo seu território. Seu culto desenvolveu festivais
distintos como o Navigium Isidis, além de cerimônias de iniciação semelhantes a
cultos de mistério greco-romanos. Alguns de seus seguidores afirmavam que ela
reunia todos os poderes divinos femininos do mundo.
A
veneração a Ísis acabou com a ascensão do cristianismo no decorrer dos séculos
IV e V. É possível que sua adoração tenha influenciado algumas práticas e
crenças do cristianismo, como por exemplo a veneração de Maria, porém as
evidências para isso são ambíguas e frequentemente controversas. Ísis continua
a aparecer na cultura ocidental, particularmente no esoterismo e neopaganismo,
frequentemente como a personificação da natureza ou como o aspecto feminino do
divino.
Quando
visto como deificação da esposa do faraó em mitos tardios, o proeminente papel
de Ísis foi como assistente do faraó morto. Desse modo, ela ganhou uma
associação funerária, com o seu nome aparecendo mais de oitenta vezes nos
chamados Textos das Pirâmides, afirmando-se que ela era a mãe das quatro
divindades que protegiam os vasos canopos, nomeadamente a protetora da
divindade do vaso do fígado, Imset. Esta associação com a esposa do faraó
também trouxe a ideia de que Ísis era considerada a esposa de Hórus (outrora
visto como seu filho), que era protetor e, posteriormente, a deificação do
faraó. No Império Médio, da XI dinastia egípcia até à XV dinastia egípcia,
entre 2040 e 1640 a.C., à medida que os textos funerários começam a ser utilizados
por maior número de membros da sociedade egípcia, além da família real, cresce
também o seu papel de proteger os nobres e até mesmo os plebeus.
No
Império Novo (XVIII, a XIX e a XX dinastias, entre 1570 e 1070 a.C.), Ísis
adquiriu proeminência como a mãe e protetora do faraó. Durante este período,
ela é descrita como amamentando o faraó e é frequentemente assim representada.
Ísis
também era conhecida por sua esperteza e também por seu poder mágico, o que
permitiu que ela revivesse Osíris e protegesse e curasse Hórus Foi dito que,
por virtude de seu conhecimento mágico, ela era "mais inteligente que um
milhão de deuses". Ísis usou suas habilidades para passar a perna em Seti
em vários episódios da história "As Disputas de Hórus e Set" do
Império Novo. Em certa ocasião, ela se transformou em uma jovem mulher que
disse a Seti que estava envolvida em uma disputa de herança similar a usurpação
da coroa de Osíris. Quando Seti afirmou que a situação da mulher era injusta,
Ísis zombou dele afirmando que ele tinha acabado de julgar-se como o errado.
Ela usou seus poderes de transformação em textos posteriores para lutar e destruir
Seti e seus seguidores.
Muitas
das histórias sobre Ísis apareceram como prólogos de textos mágicos que
descreviam eventos míticos relacionados com o objetivo que o feitiço queria
realizar. Em um deles, Ísis criou uma cobra que picou Rá, que era mais velho e
mais poderoso, fazendo-o ficar doente. Ela se ofereceu para curar Rá caso ele
lhe contasse seu nome verdadeiro e secreto – uma informação que carregava
consigo poder incomparável. Rá contou seu nome depois de muita coerção,
informação que ela repassou a Hórus, o que aumentou a autoridade real deste. É
possível que essa história tenha servido de origem para explicar o motivo dos
poderes mágicos de Ísis superarem os de outros deuses, porém, como a narrativa
mostra ela usando magia para subjugar Rá, esse conto parece indicar que ela tinha
tais habilidades antes mesmo de descobrir o nome dele.
Ísis
era comumente representada na arte egípcia como uma mulher usando um vestido de
bainha, um cajado de papiro em uma mão e um símbolo de ankh na outra. Seu
adereço de cabeça original era o símbolo de trono usado em seu nome escrito.
Ela e Néftis apareciam frequentemente juntas, particularmente ao lamentarem a
morte de Osíris, apoiando em seu trono ou protegendo os sarcófagos dos mortos.
Nessas situações, seus braços muitas vezes estavam sobre seus rostos em luto,
ou ainda abertos ao redor de Osíris ou do morto em um sinal de seus papéis de
protetoras. Nessas circunstâncias as duas eram representadas frequentemente
como milhafres ou mulheres com asas de milhafre. Esta forma pode ter sido
inspirada pela similaridades dos gritos dos milhares com o choro de mulheres
gemendo, ou ainda como metáfora conectando a procura dos milhafres por caniça
com a procura das deusas por seu irmão morto. Ísis algumas vezes aparecia na
forma de outros animais: uma porca, representando seu lado maternal; uma vaca,
particularmente quando conectada com Ápis; ou ainda como escorpião. Ela também
assumia a forma de uma árvore ou de uma mulher surgindo de uma árvore, algumas
vezes oferecendo comida e água para as almas mortas. Esta forma fazia
referência ao sustento materno que proporcionava.
A
partir do Império Novo, devido às ligações próximas entre Ísis e Hator, a
primeira passou a assumir atributos da segunda, como o chocalho de sistro e o
adereço de cabeça com os chifres de vaca cercando um disco solar. Algumas vezes
seus dois adereços de cabeça eram combinados, com o glifo de trono ficando no
topo do disco solar. Ela começou no mesmo período a usar as insígnias de uma
rainha humana, como uma coroa em formato de abutre na cabeça e um ureu real em
sua testa. Estátuas e estatuetas dos tempos ptolemaico e romano frequentemente
mostravam Ísis no estilo de escultura grega, com atributos tirados das
tradições egípcias e gregas. Algumas dessas imagens refletiam sua conexão com
outras deusas de novos modos. Ísis-Termute, uma combinação dela com Renenutete
para representar a fertilidade na agricultura, era representada no estilo de
uma mulher com o corpo inferior de uma cobra. Estatuetas de uma mulher com um
adereço de cabeça elaborado e expondo seus genitais pode representar
Ísis-Afrodite.
O
símbolo de tyet, uma forma circular similar ao ankh, era visto como o emblema
pessoal de Ísis a partir de pelo menos o começo do Império Novo, apesar de
existir desde muito tempo antes. Era frequentemente feito de jaspe vermelha e
tinha ligação com o sangue da deusa. Era usado como amuleto funerário e dizia-se
que proporcionava proteção.
FONTE: